Ergonomia e 2 problemas rotineiros: trabalho de pé e levantamento de cargas próximas ao chão.
Na maioria dos campos ligados à SST, é preciso muito estudo e dedicação para tornar-se um especialista. Com a Ergonomia não é diferente.
Mas, felizmente, boa parte das situações que encontramos podem ser resolvidas através de medidas simples, sem precisar reinventar a roda.
No presente artigo, vamos discutir duas situações bastante comuns em indústrias e no comércio:
- Atividades realizadas exclusivamente de pé;
- Levantamento de cargas que estão em um nível baixo (sobre pallets no chão, por exemplo, como na conferência de peças/itens que entram em um estoque e seu registro nos sistemas eletrônicos).
Para isso, vamos abordar 3 aspectos:
- Por que essas situações são prejudiciais para os trabalhadores, para que possamos argumentar com os empregadores quando apresentamos a necessidade de adequação;
- O que a nova NR-17 estabelece sobre o assunto (que também pode ser usado na argumentação);
- Referências bibliográficas para ajudar você a entender melhor o problema e encontrar possibilidades de melhorar esses postos de trabalho.
Vamos lá!
Trabalho de Pé: Danos à Saúde e NR-17.
Trabalhar exclusivamente de pé pode provocar inchaço nas pernas, varizes, fadiga muscular e dores lombares.
Então, por muito tempo houve a crença de que a melhor opção seria trabalhar sentado, conceito que a antiga versão da NR-17 também adotava.
No entanto, há anos se entendeu que, na verdade, o melhor é a alternância de posições.
A atual redação da NR-17 absorveu esse conceito, e dispõe que:
17.6.2 Sempre que o trabalho puder ser executado alternando a posição de pé com a posição sentada, o posto de trabalho deve ser planejado ou adaptado para favorecer a alternância das posições.
Levantamento de Cargas Próximas ao Chão: Danos à Saúde e NR-17.
Instintivamente, sabemos que ficar flexionando o tronco para levantar uma carga, mesmo que seja leve, não é bom para nossas costas.
O livro Manual de Ergonomia – Adaptando o Trabalho ao Homem nos explica o motivo: o efeito de alavanca exercido pela flexão do nosso corpo impõe uma pressão muito grande nos discos da coluna lombar.
Esses discos separam as vértebras que compõem a nossa coluna, e a repetida pressão sobre eles pode acelerar o seu desgaste – que também pode ser provocado pela idade.
Isso pode chegar a um ponto em que uma força de compressão “espreme” o conteúdo dos discos para fora, exercendo pressão na medula ou em nervos – teremos então uma hérnia de disco.
A NR-17, em seu capítulo sobre levantamento, transporte e descarga individual de cargas (17.5), dispõe que:
17.5.2 No levantamento, manuseio e transporte individual e não eventual de cargas, devem ser observados os seguintes requisitos:
a) os locais para pega e depósito das cargas, a partir da avaliação ergonômica preliminar ou da AET, devem ser organizados de modo que as cargas, acessos, espaços para movimentação, alturas de pega e deposição não obriguem o trabalhador a efetuar flexões, extensões e rotações excessivas do tronco e outros posicionamentos e movimentações forçadas e nocivas dos segmentos corporais;
Assim, está expressa a obrigação de que o trabalhador não fique flexionando o tronco durante sua jornada de trabalho, ok?
Mas como resolver esses problemas?
Como para quase tudo, não existe solução única.
Para começar, é importante lembrar que, em Ergonomia, também vale a ordem de prioridade das medidas de prevenção/controle.
Deve-se, então, primeiramente, tentar eliminar o risco.
Assim, a adaptação do posto de trabalho deve ser buscada ainda que a empresa ofereça pausas, ou faça rodízio de funções.
Uma boa fonte de consulta é a publicação “Pontos de Verificação Ergonômica”, da Fundacentro, sobre a qual já conversamos aqui, mas que agora tem nova edição:
Aqui encontramos alternativas para a maioria das situações rotineiras. Situações mais complexas requerem a intervenção de um especialista.
Longe de pretender esgotar o assunto, esse post teve como objetivo apenas chamar a atenção para um problema frequente e onde, com intervenções simples, podemos melhorar bastante a qualidade de vida dos trabalhadores e preservar sua saúde.
Se você deseja entender um pouco mais sobre Ergonomia e adquirir um olhar mais sensível e competente, trago duas sugestões de livros:
- Manual de Ergonomia: Adaptando o Trabalho ao Homem. K. H. E. Kroemer e E. Grandjean. 5a Edição, editora Bookman, 2005.
- Introdução à Ergonomia: da prática à teoria. J. Abrahão, L. Sznelwar, A. Silvino, M. Sarmet e D. Pinho. Editora Blucher, 2009.
Façamos todos um bom trabalho!
Muito bom, Cibele. Coisas simples e práticas deveriam ser a tônica e não ‘laudos’ de ‘especialistas’. Sds. Airton.