Segurança no Trabalho em Depósitos e Estoque de Mercadorias: Erros Comuns.

Frequentemente, passamos por depósitos e estoques de grandes lojas e supermercados sem dar muita atenção ao que acontece por lá.

No entanto, há aspectos básicos ligados a segurança e saúde no trabalho que merecem nossa atenção.

Vamos evitar essas falhas fáceis de corrigir? 😉

– Operação de empilhadeiras por trabalhadores sem capacitação.

Inacreditavelmente, ainda se encontram casos em que os operadores de empilhadeira não foram capacitados.

A NR-11 estabelece que:

11.1.5 Nos equipamentos de transporte, com força motriz própria, o operador deverá receber treinamento específico, dado pela empresa, que o habilitará nessa função.

11.1.6 Os operadores de equipamentos de transporte motorizado deverão ser habilitados e só poderão dirigir se durante o horário de trabalho portarem um cartão de identificação, com o nome e fotografia, em lugar visível.

11.1.6.1 O cartão terá a validade de 1 (um) ano, salvo imprevisto, e, para a revalidação, o empregado deverá passar por exame de saúde completo, por conta do empregador.

O cartão não é apenas uma exigência burocrática. Ele indica que houve uma conferência da habilitação daquele trabalhador e, o que às vezes se esquece, de sua aptidão médica para exercer a função – por isso se exige sua revalidação.

– Rotas de emergência obstruídas.

Muitas vezes, há a preocupação em não obstruir os extintores de incêndio. Em geral, a área onde não se pode colocar material é sinalizada no chão.

Só que isso não é tudo: afinal, é comum encontrar mercadorias no chão, nos corredores entre os porta-pallets, o que muitas vezes obstrui a rota de emergência.

Em caso de incêndio, é essencial que os trabalhadores possam sair com tranquilidade, sem encontrar surpresas que possam causar uma tragédia.

Isso está expresso na nova redação da NR-23, de setembro de 2022, que estabelece o seguinte:

23.3.4 As aberturas, saídas e vias de passagem de emergência devem ser identificadas e sinalizadas de acordo com a legislação estadual e, quando aplicável, de forma complementar, com as normas técnicas oficiais, indicando a direção da saída.

23.3.4.1 As aberturas, saídas e vias de passagem devem ser mantidas desobstruídas.

Quanto aos depósitos, a NR-11 também disciplina que:

11.3.2 O material armazenado deverá ser disposto de forma a evitar a obstrução de portas, equipamentos contra incêndio, saídas de emergências, etc.

– Falta de proteção contra choques nos porta-pallets.

É comum que, em áreas onde há trânsito de paleteiras e empilhadeiras, ocorram batidas nos pés dos porta-pallets, que começam a entortar, o que pode vir a comprometer sua estrutura.

Assim, é recomendável o uso de proteções contra choques.

– Movimentação individual de cargas muito pesadas com uso de equipamento inadequado.

É comum encontrar o transporte de pallets através de paleteiras manuais.

No entanto, é preciso lembrar que o limite de peso suportado pelas paleteiras manuais não é o único requisito quando se pensa no transporte de cargas usando esses equipamentos.

O esforço realizado pelo trabalhador também deve ser considerado!

Como uma referência, cito o que consta no Manual de Auxílio na Interpretação e Aplicação da Norma Regulamentadora No 36, disponível para consulta gratuita no site do Ministério:

O critério exposto parte do seguinte cálculo, nos termos da HSE: 2% de 500 kg importa numa força necessária de pelo menos 10 kgf (ou aproximadamente 100 N). 10 kgf é o limite de força para manter a carga em movimento, para trabalhadores homens. Ou seja, por esse critério, para puxar e empurrar cargas com o auxílio de equipamentos, mesmo paleteiras mecânicas, com a necessidade de uso de força pelo trabalhador, deve-se limitar a carga a, no máximo, 500 Kg no total, incluindo o peso de paletes e outros containeres e do próprio equipamento (paleteira).

Recomenda-se que cargas com peso total acima de 500 kg sejam manuseadas com equipamentos dotados de força motriz própria (paleteiras elétricas, guinchos, empilhadeiras, entre outros).

É preciso também verificar questões ligadas ao trabalho de pé e à exigência de posturas nocivas no levantamento de cargas, como já conversamos aqui.

– Manutenção realizada sem os devidos cuidados.

Especialmente em galpões com pé direito alto, é essencial pensar na manutenção desse espaço.

A resposta à pergunta “Como é feita a troca das lâmpadas?” pode trazer respostas surpreendentes: “ninguém faz”, “com escada” (sendo que o pé direito tem uns 6 metros)… É importante insistir na pergunta, porque às vezes isso é feito:

  • Com andaimes, o que requer capacitação de quem monta o andaime e de quem executa o serviço;
  • Com empilhadeira, no pesadelo de qualquer prevencionista: uma pessoa erguida sobre um pallet.

Então, durante a identificação de perigos, é importante que a manutenção seja incluída no seu questionário.

E agora?

Os aspectos apresentados são bem básicos, mas infelizmente passam despercebidos muitas vezes.

Para identificar mais perigos, é importante que você entenda a rotina de trabalho do estabelecimento, o que só se consegue conversando com trabalhadores de diferentes funções.

Além do que já mencionamos, cabem alguns lembretes:

  • Confira se as escadas são seguras e, principalmente, se têm altura suficiente para o uso previsto, evitando assim improvisos que podem provocar acidentes.
  • Em porta-pallets altos, com 3 ou mais níveis de armazenamento, é esperado que, via de regra, os pallets dos últimos níveis estejam estrechados. Se houver produtos soltos, isso pode indicar que trabalhadores chegam lá para pegar esses itens individuais, o que nos gera o questionamento: como isso é feito? As escadas têm altura suficiente para isso? Ou é novamente nosso pesadelo:  pessoa erguida sobre um pallet em uma empilhadeira?
  • Há armazenamento/manipulação de produtos classificados como perigosos? Se sim, isso também deve ser considerado.
  • Os operadores de empilhadeira conseguem ter uma boa visão da área, especialmente nos cruzamentos? Se não for assim, mudanças de leiaute e o uso de espelhos convexos são medidas a ser consideradas.

Façamos todos um bom trabalho!

Cibele Flores

Engenheira Mecânica, Engenheira de Segurança do Trabalho, Mestre em Engenharia, Auditora Fiscal do Trabalho e professora em cursos de especialização.

2 Resultados

  1. Patrick disse:

    Olá Cibele, tudo bem?

    Seus textos tem um ótima didática. Isso é super importante para quem está começando como TST. A observação, o diálogo, saber ouvir são ferramentas importantes para ser um profissional prevencionista. Desejo sucesso pra vc e gratidão por compartilhar seus textos conosco.

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