Substâncias Ototóxicas: O Que São? Quais São? Como Reduzir seus Efeitos?
Quando se trabalha com a identificação de perigos e dos possíveis danos associados à exposição a substâncias químicas, raramente se considera o problema da ototoxicidade de alguns agentes.
Essa é a propriedade de algumas substâncias de provocar danos ao sistema auditivo – independente da exposição ao ruído.
E vale lembrar que esse conceito não é exclusivamente ocupacional: há medicamentos que também têm essa propriedade.
Mas um dos problemas ao lidar com substâncias ototóxicas nos locais de trabalho é que, ainda, não se sabe exatamente as relações dose-resposta quando a exposição ocorre apenas em relação às substâncias isoladas, quando há uma combinação de exposição a produtos químicos e ao ruído ou, ainda, quando há exposições simultâneas a múltiplos produtos químicos e também ao ruído…
Isso pode ser atribuído a três fatores:
- A dificuldade de “isolar” os efeitos de cada agente;
- Nos casos de exposição a uma só substância, é difícil definir o quanto se deve à exposição por inalação e o quanto se pode atribuir à via dérmica, que é uma via que em alguns casos não se pode desprezar – como no caso dos solventes;
- O efeito sinérgico que se observa em algumas substâncias: nestes casos, o efeito da exposição é maior do que o somatório dos dois efeitos individuais.
Trata-se, então, de um fenômeno complexo – o que não o torna desprezível…
Quais substâncias são consideradas ototóxicas? Onde podemos encontrá-las?
A OSHA apresenta a seguinte relação exemplificativa de agentes ototóxicos:
Observe que vários agentes, especialmente os solventes, são amplamente utilizados na nossa indústria:
- Tolueno: muito utilizado em atividades como pintura, impressão, produção de plásticos e fabricação de produtos químicos diversos.
- Estireno: usado principalmente na fabricação de plásticos, borrachas e resinas.
- Tricloroetileno: presente em alguns processos de desengorduramento, em limpeza a seco e fabricação de produtos químicos.
- Xileno: talvez seja o solvente mais encontrado no nosso cotidiano (disputa acirrada com o tolueno…). É bastante comum em tintas, vernizes, adesivos e produtos de limpeza.
- Hexano: também usado em várias indústrias, como impressão, calçados e fabricação de adesivos.
Outra referência que pode ser útil é o livreto da ACGIH.
Na coluna “Notações”, a ACGIH designa as substâncias ototóxicas com “OTO”.
Quer saber se alguma dessas substâncias faz parte do seu processo produtivo? Se ainda não o fez, consulte as FISPQ.
E agora?
Esse post, como sempre, não tem a intenção de esgotar o tema da ototoxicidade de substâncias químicas, e sim alertar para a quase total omissão desse aspecto no processo de gerenciamento de riscos ocupacionais nas empresas.
Isso porque segundo uma revisão de diversos estudos publicada na revista The Synergist, da AIHA, embora ainda não seja possível definir precisamente os níveis de exposição a partir do qual há efeitos ototóxicos, há evidências de que eles já aconteceriam em exposições menores que os limites atualmente vigentes…
Para melhor proteger a saúde auditiva dos trabalhadores expostos a substâncias ototóxicas, então, é preciso:
- Adotar as medidas de controle adequadas e com a ordem de prioridade estabelecida nas Normas Regulamentadoras.
- Incluir esses trabalhadores em programas de conservação auditiva mesmo em situações em que os limites de exposição ao ruído não sejam atingidos (como recomendado no livreto da ACGIH, item “Ototóxico” do capítulo “Definições e Notações”).
Quer saber mais sobre o assunto? Consulte as seguintes fontes:
- Esse aqui é a versão em Português do Boletim Informativo de Segurança e Saúde SIHB 03-08-2018 da OSHA:
https://www.cdc.gov/niosh/docs/2018-124/2018-124port.html
- Artigo da revista The Synergist, da AIHA, com muitas referências:
https://synergist.aiha.org/201912-ototoxicants-and-hearing-impairment
- E para aspectos gerais de toxicologia, sempre recomendamos o livro do Prof. Dr. José Tarcísio Buschinelli:
Façamos todos um bom trabalho!