Índices de Avaliação da Exposição ao Calor: IBUTG, IST, TGU.

Conversamos há um tempo atrás sobre como o calor excessivo afeta nosso corpo.

Hoje, discutiremos os principais índices utilizados na avaliação da exposição ao calor – entre eles, o famoso IBUTG.

A tarefa de avaliar a exposição é delicada, porque a temperatura não é o único fator que afeta nossa percepção de conforto térmico, ou que provoca sobrecarga térmica.

Então, ao final desse artigo você deverá saber:

  • Quais as principais variáveis ambientais relacionadas à exposição ao calor;
  • Quais são os índices mais utilizados na avaliação da sobrecarga térmica.

Vamos lá!

Variáveis Ambientais

Para avaliar a ocorrência de sobrecarga térmica ou de desconforto térmico, é preciso primeiro conhecer algumas características do local de trabalho.

Basicamente, interessam três variáveis relacionadas ao ambiente: a temperatura, a velocidade do ar e a umidade relativa do ar.

Bem, o efeito da temperatura do ambiente sobre nós é bastante óbvio, certo?

A umidade relativa do ar, por sua vez, é um elemento que afeta diretamente a troca de calor entre nosso corpo e o ambiente.

Quanto maior a umidade relativa, menor a nossa capacidade de perder calor por evaporação do suor. E já conversamos sobre como a evaporação é importante, principalmente quando a temperatura do ambiente é maior que a temperatura do nosso corpo…

Já a velocidade do ar ao nosso redor afeta a transferência de calor por convecção e, também, pela evaporação do suor. Um ventinho num dia de calor pode ser bom, certo?

Principais Índices Utilizados

A seguir, apresentaremos alguns índices utilizados na avaliação da exposição ao calor. Você irá observar que as variáveis ambientais mencionadas integram (ou, ao menos, influenciam) a composição desses indicadores…

Ah, e o nome do índice em língua inglesa é apresentado também, para que quem tiver curiosidade possa buscar mais fontes de consulta. 😉

IBUTG (Wet Bulb Globe Temperature – WBGT)

O Índice de Bulbo Úmido – Termômetro de Globo, mais conhecido pela sigla IBUTG, é o índice utilizado pela NR-15 (Anexo 3) e pela NHO-06.

Para medi-lo, é necessário um termômetro de bulbo seco, um termômetro de bulbo úmido e um termômetro de globo.

Para ambientes internos sem carga solar, o IBUTG é obtido através da equação a seguir:

 

Observa-se que, nesse caso, apenas se utiliza o termômetro de bulbo úmido e o termômetro de globo.

Já quando estamos em ambientes externos, com carga solar, o IBUTG é calculado da seguinte maneira:

Apenas obter esses números, no entanto, não encerra a avaliação segundo o IBUTG.

A avaliação da sobrecarga térmica através desse índice requer também que analisemos a atividade realizada pelo trabalhador.

Quanto maior a exigência metabólica dessa atividade, menor o IBUTG máximo permissível. Essa relação é apresentada em tabelas, tanto pela NHO-06 quanto pelo Anexo 3 da NR-15.

Quadro 2 do Anexo 3 da NR-15, onde se vê a relação entre o metabolismo e o máximo IBUTG admissível.

Observações sobre o IBUTG:

  • A avaliação segundo o IBUTG necessariamente está associada a um ciclo de uma hora, mesmo que o ciclo ou conjunto de ciclos de trabalho seja diferente de uma hora!
  • O IBUTG não é um bom índice para avaliar sobrecarga térmica quando o trabalhador usa roupas impermeáveis1.
  • Deve ser considerado o período corrido de exposição mais desfavorável.

Esse último é um fator muito esquecido entre nós, em especial nos estados do sul. Fazer avaliação de calor no RS em agosto e dizer que o resultado é representativo da exposição anual não dá, né?

O Índice de Sobrecarga Térmica (IST) e a Temperatura de Globo Úmido (TGU)

O Índice de Sobrecarga Térmica (ou Heat Stress Index – HSI) já foi bastante usado no passado.

Ele é calculado pela divisão entre a evaporação necessária pelo corpo e a máxima evaporação possível, multiplicado por 100. O IST tem sido menos utilizado por conta de algumas restrições1:

  • A premissa de que um trabalhador saudável poderia suar 1 litro por hora durante a jornada de 8 horas não foi comprovada através de estudos epidemiológicos. Ao contrário, os estudos mostram que esse valor é muito alto;
  • O índice não é aplicável para condições de stress térmico muito elevado;
  • O IST, ou HSI, não diferencia corretamente o stress térmico que resulta do calor seco ou do calor úmido.

Também vale mencionar a Temperatura de Globo Úmido (Wet Globe Temperature – WGT). Esse índice aparece no Anexo 6 da NR-15, que trata do trabalho em condições hiperbáricas.

A Temperatura de Globo Úmido é medida através do termômetro de Botsball, que é um termômetro de globo revestido com um tecido preto umedecido, considerando assim a velocidade do ar, sua umidade relativa e o calor radiante.

Conclusões

Existem outros índices utilizados para avaliar a exposição ao calor. No entanto, o mais utilizado mundialmente para a avaliação da sobrecarga térmica é o IBUTG.

Além de ser relativamente simples de ser medido, seu método considera a questão metabólica, e, também, a medição não interfere nas atividades do trabalhador, requisitos bastante importantes em um método de avaliação.

Isso, no entanto, não quer dizer que todos os outros índices sejam ruins. Eles podem ser mais adequados ou menos adequados a algumas situações de exposição. O próprio IBUTG, por exemplo, não é muito legal para avaliar situações em que o trabalhador utiliza roupas impermeáveis, como já mencionado…

Índices como a Temperatura Efetiva e a Temperatura Efetiva Corrigida, que serão objeto de outros artigos, não são adequados para avaliar a sobrecarga térmica. Isso porque eles consideram apenas as variáveis ambientais, sem levar em conta a atividade realizada.

Bem, agora que já sabemos os efeitos do calor sobre o corpo e como avaliar a exposição, precisamos adotar medidas de controle adequadas.

Isso será assunto para uma próxima conversa, em breve! Mas desde já vale dizer que ao calor também se aplica a hierarquia das medidas de controle dos riscos ambientais. 😉

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Façamos todos um bom trabalho!


Fonte:

1 Criteria for a Recommended Standard: Occupational Exposure to Heat and Hot Environments. NIOSH, 2016.

Cibele Flores

Engenheira Mecânica, Engenheira de Segurança do Trabalho, Mestre em Engenharia, Auditora Fiscal do Trabalho e professora em cursos de especialização.

2 Resultados

  1. Jacquelina Gratarolli disse:

    Oi Cibele, boa tarde. Como Ergonomista tenho encontrado situações em áreas operacionais como linhas de produção, onde apesar de não haver o calor radiante ocorre grande desconforto térmico. Como a NR 17 trata de ambientes de escritório ou laboratório, para as áreas operacionais eu tenho usado a medição da temperatura efetiva ( temperatura ambiente + velocidade do ar + umidade relativa do ar) para demonstrar o desconforto térmico. Gostaria da sua opinião a respeito.

    • Cibele Flores disse:

      Oi, Jacquelina!
      É difícil opinar sem ter o cenário completo, mas o problema do uso exclusivo da temperatura efetiva seria que, nela, a atividade realizada pelo trabalhador não ajuda na composição do indicador. Em áreas operacionais isso pode ser um problema, mesmo que o calor radiante não pareça ser um fator relevante.
      Então, se é usada exclusivamente a temperatura efetiva para avaliar sobrecarga térmica, não está adequado. Se ela é um complemento à avaliação pelo conjunto “IBUTG + taxa metabólica”, apenas para avaliação de conforto, não sei se está adequado ou não… 🙂
      Abraços!

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