Nova Publicação da Fundacentro: Guia Técnico sobre Estratégia de Amostragem.
Entre os temas mais mal compreendidos pelos prevencionistas estão as medições de agentes químicos.
Infelizmente, o que mais se vê nos PPRAs são registros de um resultado qualquer… E o pior é que muitos acreditam que isso realmente representa a exposição dos trabalhadores ao agente químico avaliado.
Na maioria dos casos, o prevencionista simplesmente marca um dia para o pessoal do laboratório ir coletar a amostra… Então um trabalhador fica com um amostrador por um tempo determinado, a amostra vai para o laboratório e o resultado chega dias depois. O prevencionista fica feliz, achando que fez muito bem o seu trabalho.
Ledo engano. A coisa geralmente deveria ir muito além disso…
E o “jeito certo” é apresentado magistralmente no Guia Técnico sobre Estratégia de Amostragem e Interpretação de Resultados de Avaliações Quantitativas de Agentes Químicos em Ambientes de Trabalho, da Fundacentro.
A publicação está disponível para download gratuito no site da Fundacentro, no seguinte link:
Faça o download já!
E se você acha que já sabe tudo, sinto muito: essa publicação mostra o quão longe estamos de tratar o tema com seriedade. E o pior é que muitos nem desconfiam disso…
Guia Técnico sobre Estratégia de Amostragem: Principais Destaques
Se você precisa ser convencido a baixar o Guia Técnico, vamos te dar alguns ótimos motivos!
-
Fique familiarizado com conceitos importantes.
A publicação apresenta importantes definições que são ignoradas por boa parte daqueles que trabalham com avaliação de agentes químicos.
Uma delas é a do nível de ação, que é muito mais do que está na NR-9. O Guia Técnico ressalta a relação entre o desvio-padrão geométrico e o nível de ação: quanto maior o DPG, menor o nível de ação.
Lembra que já tivemos essa conversa no artigo sobre o nível de ação?
https://www.sabersst.com.br/nivel_de_acao/
O capítulo 6 do Guia Técnico apresenta outras definições importantes, como distribuição lognormal, fator de desvio, grupo similar de exposição, efeitos combinados ou aditivos em misturas (o que sempre é ignorado…) e muitas outras!
Quer realmente entender o que você está fazendo (ou vai fazer)? Então leia! 😉
2. Avaliação Quantitativa: Por que fazer?
O Guia Técnico também é muito feliz ao nos lembrar que a avaliação quantitativa deve ser feita com um objetivo claro.
Isso está previsto na NR-9, e é algo que sempre falo em sala de aula: o prevencionista tem que saber que informação ele pretende obter ao realizar a avaliação quantitativa!
Se você “fizer por fazer”, sinto muito: o mais provável é que o dado não tenha utilidade real, para fins de prevenção.
Entre os objetivos possíveis, o Guia apresenta:
- Estimar e monitorar a exposição dos trabalhadores durante a jornada de trabalho e ao longo do tempo para registros e estudos epidemiológicos.
- Subsidiar projetos de implantação de medidas de controle e avaliar sua eficácia.
- Verificar a conformidade dos ambientes de trabalho e das exposições ocupacionais com os VRAT estabelecidos na legislação.
- Prevenir a exposição de trabalhadores a concentrações elevadas através do monitoramento contínuo do ambiente de trabalho, em tempo real, utilizando instrumentos de leitura direta da concentração dotados de alarmes pré-ajustados.
Diferentes finalidades poderão ter diferentes estratégias de amostragem. Ok? ?
3. Avaliação Quantitativa: Como fazer?
Se você tiver que ler apenas um capítulo do Guia Técnico, leia esse.
Nele, são detalhadamente descritas as etapas envolvidas em uma avaliação quantitativa – não, não é apenas ligar para o laboratório. 🙂
E sobre isso, vale uma analogia bem rasa.Quando você está doente ou quer fazer um check-up, você não chega num laboratório de análises clínicas e pergunta os exames que deve fazer.
Você primeiro vai ao médico, e ele é quem faz o seu diagnóstico e pede os exames necessários.
No nosso caso, o prevencionista (membro do SESMT ou consultor) é que será o médico. Ele é quem conhece o local de trabalho, estudou detalhadamente as atividades e poderá, então, “fazer o diagnóstico” e requerer os “exames” – no caso, as medições necessárias.?
O Guia Técnico apresenta detalhes sobre as etapas de caracterização básica, avaliação qualitativa e priorizações e, em seguida, a elaboração da estratégia de avaliação quantitativa.
Sério: pegue um café, vá até a página 40 do Guia e leia com carinho. Vai mudar a forma como você enxerga essa questão. 😉
4. Como interpretar os resultados da Avaliação Quantitativa?
Esse capítulo é de leitura fundamental para quem que fez uma medição qualquer, teve um resultado abaixo do limite de exposição e acha que está tudo certo…
Ele mostra como esse entendimento é errado. E muito!
A ferramenta que auxiliará na interpretação dos resultados dos monitoramentos e nas tomadas de decisões é a estatística. Ela será útil principalmente para as situações em que todos os resultados de concentração obtidos nos dias avaliados estão abaixo dos VRATs, o que induziria o profissional ao julgamento de conformidade para o período inteiro (ex.: o ano). Esta é a hipótese que precisará ser testada.
Veja bem: você pode obter só resultados abaixo do limite de exposição e, ainda assim, a estatística poderá mostrar para você que a exposição daquele grupo está não conforme!
Não vou entrar em detalhes aqui porque a conversa é longa, mas vale a pena ler o capítulo – nem que seja para saber o quão mal temos trabalhado essa questão. :-/
5. Apêndices!
Além de tudo isso, o Guia Técnico apresenta dois apêndices
- Um com exemplos práticos de análise estatística de resultados obtidos;
- Outro orientando sobre o uso de programas estatísticos na internet, como a famosa “planilha da AIHA”. Aproveite!
E agora?
Tudo isso é super importante para entender o que é o tecnicamente correto… Mas será que devemos aplicar isso em todos os lugares?
O próprio Guia apresenta as seguintes palavras em sua introdução, fruto da experiência e do bom senso:
A avaliação quantitativa de agentes químicos requer investimentos financeiros e profissionais especializados que muitas vezes a torna inacessível para as pequenas empresas. Para estas, seria mais apropriado adotar metodologias de avaliação qualitativa dos riscos com base na experiência profissional, no conhecimento profundo dos processos produtivo e de trabalho, na percepção dos riscos, nas Fichas de Dados sobre Segurança dos Produtos Químicos e na participação dos trabalhadores.
Em resumo: isso não é para qualquer empresa. Sejamos sábios.
Esse Guia é, certamente, uma contribuição preciosa da Fundacentro para o avanço no conhecimento da Higiene Ocupacional no Brasil.
Nosso agradecimento profundo ao Dr. Albertinho Barreto de Carvalho, grande profissional e pessoa, que nos brinda com essa obra sensacional. Muito obrigada, Mestre! 🙂 #soufã
Façamos todos um bom trabalho!
Querida Cibele: ótima análise. Que as orientações, agora bem mais claras, ajudem na melhoria da avaliação de riscos e da implantação de medidas de controle, tão necessárias nesses tempos negros de reformulação e precarização trabalhista. Abc. Airton.
Obrigada, Airton! Não podemos desistir. 🙂
Boa tarde!
No fator de redução, consta que a jornada de trabalho no Brasil é de 48 horas. Mas na verdade é de 44 horas semanais, conforme a constituição. Não é a primeira vez que vejo isso.
Por que a Fundacentro não atualiza para 44h?
Olá!
Não tenho certeza, mas penso que pode ser para não ficar incompatível com o Anexo 11 da NR-15 (veja o item 10 da norma).
Até mais!
Amigos, novo link para o Guia Técnico sobre Estratégia de Amostragem e Interpretação de Resultados de Avaliações Quantitativas de Agentes Químicos em Ambientes de Trabalho, da Fundacentro. Acessado em 20/07/2021 18:10.
http://arquivosbiblioteca.fundacentro.gov.br/exlibris/aleph/a23_1/apache_media/8ASNR91E5R1LRV6I1P17UQTJG5DE1R.pdf
Obrigada!! Link atualizado no post! 🙂
Grato pela honrosa referência Cibele. Fiquei até emocionado. Vc captou bem a ideia desse Guia. Estou afastado da a área e hoje vivo na Chapada Diamantina cuidando da minha reserva ecológica, mas fiquei muito feliz por ter encontrado esse seu comentário. Minha gratidão. Seja feliz!
Fiquei MUITO feliz com sua mensagem, e que minha pequena homenagem tenha chegado a você.
Obrigada por tudo! E continue sendo luz onde quer que a vida te leve!