Monitoramento Biológico e Indicadores Biológicos de Exposição
Quando se trata da exposição dos trabalhadores a agentes químicos, um dos aspectos mais negligenciados é o seu monitoramento biológico.
Em muitos casos, os exames complementares necessários não são executados – afinal, os riscos não costumam sequer estar devidamente reconhecidos pelo empregador… :-/
Em outros casos, os exames são feitos de forma descuidada, sem observar as determinações da NR-7.
Ao final desse artigo, você deverá saber:
- O que é e para que serve o monitoramento biológico, no contexto ocupacional;
- Os tipos de indicadores biológicos e sua interpretação (exposição excessiva, significado clínico…);
Vamos lá!
O que é o Monitoramento Biológico?
Segundo o livro Toxicologia Ocupacional, de José Tarcísio Penteado Buschinelli (download gratuito aqui), o comitê misto formado pela OSHA, o NIOSH e a Comissão Europeia definiu o monitoramento biológico como:
A avaliação de agentes químicos ou seus metabólitos em tecidos, secreções, excreções, ar exalado ou qualquer combinação destes para avaliar o risco à saúde quando comparados com referências apropriadas.
Assim, mede-se a concentração do próprio agente ou de um metabólito seu (como o ácido metil-hipúrico, que é um metabólito do xileno) em uma amostra biológica colhida do trabalhador.
Essa amostra pode ser de sangue, urina ou ar expirado (como no caso do bafômetro), dependendo do que se deseja avaliar. 😉
O resultado obtido, então, é comparado com alguma referência. Como exemplos, podemos apontar o IBMP (Índice Biológico Máximo Permitido) e o Valor de Referência, estabelecidos na NR-7, e o BEI® (Índice Biológico de Exposição), estabelecido pela ACGIH.
Na nossa legislação, o monitoramento biológico é regido pelas diretrizes da NR-7, e seus resultados são fundamentais para o desenvolvimento das ações do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais e, a partir de 2021, do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).
Isso porque a principal finalidade do monitoramento biológico nos exames médicos ocupacionais é avaliar a efetividade das medidas de controle no ambiente de Trabalho [1].
Ah, também é importante lembrar que o monitoramento biológico permite avaliar a exposição ocupacional a um agente “como um todo”, já que seus resultados também consideram a absorção pela pele ou, o que é menos comum, pela via digestiva.
Quais os tipos de indicadores biológicos?
A maioria dos indicadores biológicos classifica-se como de dose interna, podendo avaliar exposições recentes ou, também, a quantidade de contaminante armazenada em determinados tecidos (como o chumbo inorgânico nos ossos) [2].
A maioria desses indicadores não caracteriza uma doença, sendo interpretados como indicadores de exposição excessiva (EE).
Devemos prestar atenção a eles! A exposição excessiva a um agente indica a necessidade de adotar ou melhorar as medidas de controle existentes. 😉
Outros indicadores são classificados como indicadores de efeito, uma vez que seus resultados indicam que há alteração no organismo. Assim, são interpretados como tendo significado clínico (SC).
Mas calma: você não vai precisar revirar a literatura atrás dessas informações!
Essas características dos indicadores biológicos são apresentadas no Quadro I da NR-7 na coluna “Interpretação”, enquanto o momento da coleta é indicado na coluna “Amostragem”.
Já conversamos um pouco sobre esse Quadro e alguns erros envolvidos na realização dos exames complementares nesse post aqui:
O PCMSO e os Exames Médicos Complementares
Na nova NR-7, que entra em vigor junto com o PGR, os indicadores de Exposição Excessiva estão no Quadro 1, enquanto os com Significado Clínico estão no Quadro 2. 😉
E agora?
Se você deseja aprofundar seus estudos sobre monitoramento biológico, recomendo que você consulte o livro Manual de Orientação sobre Controle Médico Ocupacional da Exposição a Substâncias Químicas, também de autoria do Dr. José Tarcísio Buschinelli, disponível para download gratuito no site da Fundacentro:
Além disso, sempre é bom revisar o reconhecimento dos riscos (seja no PPRA ou no PGR) e ver como anda a execução do PCMSO. 😉
Façamos todos um bom trabalho!
Fontes:
[1] Toxicologia Ocupacional. José Tarcísio Penteado Buschinelli. Fundacentro, 2020. Download gratuito aqui: http://antigo.fundacentro.gov.br/biblioteca/biblioteca-digital/publicacao/detalhe/2020/3/toxicologia-ocupacional
[2] Saúde no Trabalho: Temas Básicos para o Profissional que Cuida da Saúde dos Trabalhadores. Mário Ferreira Junior. Editora Roca, 2002.