Perfil de Exposição Ocupacional e o PGR: O que é? Como definir?
Como já conversamos aqui, na avaliação dos riscos no PGR deve-se combinar a magnitude/severidade dos danos causados por um perigo/fator de risco com a probabilidade de sua ocorrência.
A determinação dessa probabilidade, porém, não pode ser “chutada”. E no caso da exposição a riscos físicos, químicos e biológicos, a norma é clara:
1.5.4.4.4 A gradação da probabilidade de ocorrência das lesões ou agravos à saúde deve levar em conta:
[…]
b) as medidas de prevenção implementadas;
[…]
d) a comparação do perfil de exposição ocupacional com valores de referência estabelecidos na NR-09.
Mas o que é o tal “perfil de exposição ocupacional”? É só aquele resultado da medição que o laboratório veio fazer na empresa?
Na verdade, não é bem assim.
Quer entender um pouco melhor do que se trata? Então vamos lá!
Perfil de exposição: o que é?
Segundo o livro “Uma Estratégia para Avaliar e Gerenciar Exposições Ocupacionais”, lançado pela ABHO a partir da 4a edição do livro da AIHA:
Um perfil de exposição é uma caracterização da variabilidade temporal dos níveis de exposição para um Grupo de Exposição Similar.
Essa caracterização pode ser quantitativa ou qualitativa.
Também segundo a AIHA/ABHO, para caracterizar um perfil de exposição é necessário, além da estimativa da exposição e da sua variabilidade, um julgamento sobre a incerteza dessa estimativa.
Apesar de as palavras variabilidade e incerteza poderem causar alguma confusão, uma forma bem simplificada de entender esses conceitos é a seguinte:
- A variabilidade está associada às diferentes exposições que o trabalhador tem enquanto realiza todas as suas tarefas. Vamos supor que um processo produtivo consuma resinas, e que elas sejam preparadas duas vezes na semana. Nesses dias, em que você fraciona produtos e os mistura, sua exposição é diferente daquela dos dias em que você apenas coloca essa mistura na máquina.
Da mesma forma, as flutuações na produção também influenciam na variabilidade da exposição: pintar um lote pequeno de peças no final da manhã é bem diferente de passar o dia inteiro pintando…
- Já a incerteza tem a ver com o fato de, após termos chegado a uma estimativa dessa exposição, não sabermos o quão precisa nossa estimativa é. Isso pode acontecer porque temos poucos dados sobre a exposição ou por quaisquer outros motivos que nos causem dúvidas.
Então, em resumo, em geral não basta só colocar em uma planilha aquele resultado apresentado pelo laboratório e achar que está tudo bem.
Para que serve o perfil de exposição? Como defini-lo?
Definir um perfil de exposição deve servir, principalmente, para determinar se a situação é aceitável ou não, também sendo útil na busca pela comprovação de conformidade legal.
E antes que alguém diga que é a mesma coisa: não é. Uma situação em conformidade legal pode ser considerada, pelo critério de risco da empresa, inaceitável – afinal, temos limites notoriamente defasados e, em muitos casos, pouco protetivos.
A estimativa do perfil de exposição pode ser feita de diferentes formas:
- através dos dados de atividades similares (e cuidado aqui, porque isso requer um julgamento profissional bem calibrado);
- a partir de medições;
- avaliando os piores casos e usando a estimativa mais alta de exposição. Se a estimativa mais alta do perfil de exposição, combinada com a severidade do dano causado, levar a um nível de risco considerado aceitável, então a exposição poderá ser tratada assim.
E sobre isso, dois alertas:
- É essencial que todo esse processo seja devidamente documentado. No contexto do PGR/GRO, esses documentos serão a fonte dos dados apresentados no Inventário de Riscos Ocupacionais.
- Também segundo o livro da AIHA/ABHO, ao realizar a classificação inicial da exposição deve-se assumir a ausência de EPI. Isso porque, assim, o prevencionista poderá determinar o quanto os trabalhadores dependem dos EPIs, que ocupam o último lugar na hierarquia das medidas de controle.
E agora?
O objetivo desse artigo não era esgotar o assunto “perfil de exposição ocupacional”, e sim apresentar um alerta sobre a necessidade de que esse conceito seja entendido e aplicado.
Esse tema tem muitas nuances e deve ser estudado de forma séria por quem se propõe a tratar de exposições a riscos físicos e químicos.
Para isso, uma ótima referência é o livro “Uma Estratégia para Avaliar e Gerenciar Exposições Ocupacionais”, lançado pela ABHO a partir da 4a edição do livro da AIHA, referência mundial no tema.
No contexto atual, em que o GRO/PGR privilegia a autogestão das empresas, é essencial que as avaliações de risco sejam realizadas de forma adequada.
Afinal, se isso for mal feito, todo o gerenciamento de riscos está condenado ao fracasso.
Façamos todos um bom trabalho!
Brilhante, como sempre, Cibele. Repassei. Sds. Airton.
Excelente!