Como Interpretar a FISPQ ou FDS? NR-26, CAS, Bases de Dados e Mais!

Quando se avalia qualquer processo, é fundamental conhecer as substâncias químicas nele utilizadas. Para isso, é preciso ler e interpretar corretamente as Fichas com Dados de Segurança (FDS).

Antes da revisão da ABNT NBR 14725:2023, elas eram denominadas Fichas de Informação de Segurança de Produtos Químicos (FISPQ).

Muitos prevencionistas se sentem intimidados pela FDS, ou então a confundem com a Ficha de Emergência… Ao final desse post, você conhecerá:

  • Os aspectos normativos que regem a elaboração e a apresentação da FDS;
  • A informação mais poderosa que a FDS nos fornece;
  • A melhor fonte para interpretar informações sobre substâncias químicas.

Vamos lá!

FDS: Aspectos Normativos

O conteúdo da FDS deve atender ao previsto na norma ABNT NBR 14725:2023. A atual versão da norma segue as premissas estabelecidas pelo Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos, conhecido como GHS.

Uma FDS deve, obrigatoriamente, conter as 16 seções listadas na NBR 14725. Não se pode excluir nenhuma delas, nem mudar a sequência!

Todas são importantes para o prevencionista, mas as principais, no meu entendimento, são as sublinhadas:

  1. Identificação do produto e da empresa
  2. Identificação de perigos
  3. Composição e informações sobre os ingredientes
  4. Medidas de primeiros socorros
  5. Medidas de combate a incêndio
  6. Medidas de controle para derramamento ou vazamento
  7. Manuseio e armazenamento
  8. Controle da exposição e proteção individual
  9. Propriedades físicas e químicas
  10. Estabilidade e reatividade
  11. Informações toxicológicas
  12. Informações ecológicas
  13. Considerações sobre destinação final
  14. Informações sobre transporte
  15. Informações sobre regulamentações
  16. Outras informações

Se o documento que te apresentarem não tiver essas 16 seções, não é uma FDS.

Interpretar as FDS corretamente é fundamental! Assim, você poderá selecionar corretamente as medidas de controle necessárias, como a ventilação, e fazer o monitoramento biológico adequado.

A NR-26 aborda de forma bastante clara o assunto, como nos trechos a seguir:

O fabricante ou, no caso de importação, o fornecedor no mercado nacional, deve elaborar e tornar disponível ficha com dados de segurança do produto químico para todo produto químico classificado como perigoso (item 26.4.3.1 da NR-26).

O produto químico não classificado como perigoso à segurança e saúde dos trabalhadores, conforme o GHS, deve dispor de rotulagem preventiva simplificada que contenha, no mínimo, a indicação do nome, a informação de que se trata de produto não classificado como perigoso e recomendações de precaução (item 26.4.2.3 da NR-26).

A organização deve assegurar o acesso dos trabalhadores às fichas com dados de segurança dos produtos químicos que utilizam no local de trabalho (item 26.5.1 da NR-26).

A informação mais valiosa: número CAS

O número CAS é um registro fornecido pelo Chemical Abstracts Service, uma divisão da Sociedade Americana de Química que, entre outras atribuições, mantém um banco de dados de substâncias químicas.

Cada substância recebe um número de registro único, o que é muito útil, já que uma mesma substância pode ter vários nomes diferentes. O percloroetileno, por exemplo, também é chamado de tetracloroeteno, tetracloroetileno e percloroeteno. Seu CAS, porém, é o 127-18-4. Muito útil, certo?

Veja agora um pedaço de uma FDS/FISPQ do percloroetileno. A composição de uma substância ou mistura está no item 3 (Composição e Informação sobre os Ingredientes), e nele destacamos o CAS. Se houver contaminante relevante, o seu CAS também será apresentado.

fispq_cas_perc

Como saber os riscos a que estão expostos os que utilizarem o produto?

Suponha que a FDS/FISPQ seja antiga ou mal feita, e que os itens 2 (Identificação de Perigos) e 11 (Informações Toxicológicas) sejam bem pobres. Conhecendo o CAS, podemos buscar informações em várias bases de dados internacionais.

Como exemplo, apresento o IPCS INCHEM, mantido por uma cooperação entre a Organização Mundial de Saúde e o Canadian Centre for Occupational Health and Safety (CCOHS).

Vamos continuar com o percloroetileno, com seu CAS 127-18-4, muito utilizado por empresas que fazem lavagem a seco.

FISPQ CAS PERC INCHEM

Após inserir o CAS na página inicial e apertar o “Search”, aparecem os resultados da busca.

FISPQ CAS PERC INCHEM 2

Em geral, é bom escolher o ICSC – International Chemical Safety Card (segue um pedacinho dele). O link para o ICSC, para você conhecer de perto, está aqui. Vale a pena!

FISPQ CAS PERC INCHEM 3

Dá para ver que o ICSC compila os limites de exposição, os pictogramas do GHS e os efeitos à saúde, entre outras informações muito legais – e úteis.

Existem outras bases de dados por aí. A do IARC – International Agency for Research on Cancer também é muito interessante, e o link está aqui.

Eventualmente, porém, a FDS é boa ou encontramos as informações nas bases de dados, mas esbarramos em outro problema. Como interpretar esses dados? Como entender a pressão de vapor? E o ponto de fulgor?

Bem, nesse caso, recomendo a melhor fonte para o prevencionista que deseja interpretar corretamente informações ligadas a substâncias químicas.

É o Manual para Interpretação de Informações Sobre Substâncias Químicas, da Fundacentro. Faça o download já!

Quem acompanha nosso conteúdo já deve ter notado que sou fã da Fundacentro! É muito conteúdo de qualidade, aplicável e em língua portuguesa.

Informação útil é do que precisamos para ser profissionais cada vez melhores! E de graça, melhor ainda. 😉


Espero que o conteúdo tenha sido útil! Nossa formação é contínua, sempre temos o que aprender.

Fique atualizado sobre o nosso conteúdo, nos seguindo nas redes sociais e se inscrevendo na nossa Newsletter. 😉

Façamos todos um bom trabalho!

Cibele Flores

Engenheira Mecânica, Engenheira de Segurança do Trabalho, Mestre em Engenharia, Auditora Fiscal do Trabalho e professora em cursos de especialização.

9 Resultados

  1. RENILSON DE SOUZA BRITO disse:

    Bom dia!

    Eu gostei muito das informações do site.

    Façamos um bom Trabalho!

  2. Joyce Santos disse:

    Olá. Excelente matéria, mas não encontrei o manual para download: sabe orientar como proceder? Parabéns!

  3. JOSE C. EBERT disse:

    Boa Tarde!
    Como consigo obter o CAS da substância Kyphenothrin (Piretróide)?
    Tentei no IPCS INCHEM mas não obtive exito.
    Objetivo: Determinar o EPI – Respirador Semi-Facial que melhor atenda à manipulação de um Produto à base de Cifenotrina.

  4. Luis Melo disse:

    Olá, parabéns pelo trabalho de difusão de informações tão importantes para segurança ocupacional.

    A busca do CAS no IPCS foi bem simples. Tem logo na página inicial o campo de busca do produto químico. Já no ICSC não consegui localizar a área onde se possa buscar as compilações contendo limites de exposição, os pictogramas, etc… alguém consegue auxiliar?

    Obrigado.

  5. Gustavo disse:

    Bom dia, no caso do produto ser uma mistura, é necessário informar o CAS number ?

    • Cibele Flores disse:

      Sim. Devem ser informados os CAS numbers de todos os ingredientes perigosos que estejam presentes nessa mistura em concentrações maiores que os valores de corte/limites de concentração conforme os critérios do GHS. Sugiro a consulta à Tabela 53 da ABNT NBR 14725 (edição 2023).
      Até mais!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Conheça nosso novo Guia!


Nele, respondemos aquelas perguntas que quase todo prevencionista tem sobre Calor:

Conheça já! E se você tem Kindle Unlimited, é grátis!