Exposição Ocupacional a Isocianatos: Por Onde Começar?

Isocianatos são um grupo de substâncias químicas altamente reativas, e que se caracterizam por conter um grupo de átomos -N=C=O. 

Eles reagem exotermicamente com álcoois, produzindo uretanos, e é esse uso que merece nossa maior atenção do ponto de vista ocupacional.

Isso porque os isocianatos são matéria-prima necessária para obter produtos à base de poliuretano, que fazem parte da vida de todos nós.

Afinal, a maioria de nós dorme em colchões, senta em cadeiras estofadas, usa esponjas para lavar louça… até o assento sanitário “fofinho” tem PU. 🙂

Então, nesse artigo, vamos conversar sobre os isocianatos: o que são, seus efeitos sobre a saúde, as principais fontes de exposição e mais!

Vamos lá!

Para começar: todos os isocianatos são iguais?

Não!

Como já mencionamos, quando se fala de “isocianatos” se está falando de um grupo de substâncias.

Essas substâncias, com composições químicas distintas, se apresentam em diferentes formas e com diferentes usos. Podemos destacar:

Fonte: Adaptado de Safework Australia.

Quais os efeitos dos isocianatos sobre a saúde?

Isocianatos são irritantes e sensibilizantes do trato respiratório e da pele. Além disso, a exposição a vapores e aerossois pode causar irritação nos olhos.

Segundo o NIOSH, o efeito adverso mais comum associado à exposição aos isocianatos é asma devido à sensibilização.

Segundo o IRSST, os isocianatos são a principal causa de asma ocupacional na maioria dos países industrializados, e todos os grupos funcionais isocianatos contribuiriam para a doença.

Para saber como isso ocorre, assista o vídeo a seguir (em inglês):

Segundo o IRSST, essa asma ocupacional pode se manifestar após vários meses ou anos de exposição. 

Como os sintomas frequentemente aparecem à noite, muitos trabalhadores não ligam imediatamente o trabalho ao desconforto que sentem…

Uma vez que o trabalhador foi sensibilizado, a única alternativa para evitar novos quadros de asma é a interrupção da exposição, o que pode ser alcançado:

  • Pela retirada do trabalhador do ambiente em que houver possível exposição a isocianato;
  • Pela disponibilização de respirador com adução de ar e prevenção de qualquer exposição por via dérmica.

Dentre os isocianatos, merece muita atenção o TDI. Além de ser irritante e sensibilizante, o TDI também é classificado como possivelmente cancerígeno para humanos (grupo 2B do IARC).

E agora? O que fazer?

Como sempre, deve-se seguir a hierarquia das medidas de controle, que é tanto uma boa prática quanto uma obrigação legal.

Idealmente, sempre se busca a eliminação do risco, que pode ser feita através da substituição das matérias-primas.

Se isso não for possível, deve-se tentar mudar o equipamento ou os métodos de trabalho.

Caso isso também não seja viável, deve-se trabalhar muito bem a ventilação do ambiente de trabalho, tanto geral quanto local. Para isso, é bom lembrar que:

  • O fluxo de ar, na ventilação geral, deve vir de uma área limpa;
  • Os trabalhadores devem ser posicionados fora das áreas contaminadas;
  • O ar captado pelo sistema de exaustão local deve ser lançado para fora da edificação, e longe das tomadas de ar, para evitar que seja reconduzido para dentro da fábrica.

Além disso, medidas rigorosas de higiene pessoal devem ser adotadas.

Os trabalhadores devem lavar as mãos e o rosto várias vezes ao longo da jornada de trabalho, e as roupas de proteção devem ser retiradas na hora das refeições – além de, claro, não serem levadas para casa.

Também devem ser disponibilizados lava-olhos e chuveiros de emergência no local.

E é importante observar que o odor não serve como parâmetro para sabermos se há exposição aos isocianatos, uma vez que o limiar de odor é muito superior ao limite de exposição ocupacional.

Também vale lembrar que a degradação térmica do poliuretano causa a liberação de isocianatos e de outras substâncias tóxicas. 😉

Alerta sobre o uso de respiradores no caso de exposição a isocianatos!

Segundo o IRSST, quando há uso de spray com produtos à base de isocianatos, o correto é o fornecimento de respirador com adução de ar. 

Isso também está previsto no nosso PPR-FUNDACENTRO, no item 3.4.1 do Anexo 3, que trata das substâncias com fracas propriedades de alerta.

Os isocianatos estão listados entre essas substâncias e, segundo o PPR-Fundacentro, para proteção contra elas não se devem usar respiradores com filtro químico, em princípio. 

Preciso saber mais sobre a exposição a isocianatos! Por onde começar?

Sugerimos as seguintes fontes de consulta, todas gratuitas:

https://www.irsst.qc.ca/en/publications-tools/publication/i/100691/n/guide-for-safe-use-of-isocyanates-an-industrial-hygiene-approach-rg-773

https://files.nc.gov/ncdol/osh/publications/ig46.pdf?2iQrl1Gg1.kub5l4dNyXWaaxz_dw5bTD

https://www.safeworkaustralia.gov.au/system/files/documents/1702/guide-to-handling-isocyanates.pdf

https://www.cdc.gov/niosh/docs/96-111/

https://www.cdc.gov/niosh/docs/2004-116/pdfs/2004-116.pdf?id=10.26616/NIOSHPUB2004116

https://www.hse.gov.uk/construction/healthrisks/hazardous-substances/isocyanates.htm

https://www.cdc.gov/niosh/npg/npgd0621.html

Façamos todos um bom trabalho!

Cibele Flores

Engenheira Mecânica, Engenheira de Segurança do Trabalho, Mestre em Engenharia, Auditora Fiscal do Trabalho e professora em cursos de especialização.

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