Exposição ocupacional à sílica: como reconhecer e controlar?
Uma das raras doenças ocupacionais sobre as quais conversamos no Brasil é a silicose. A doença, que é provocada pela exposição à sílica livre cristalizada, é irreversível, e atinge um grande número de trabalhadores pelo mundo.
Nesse artigo, conversaremos sobre os principais aspectos ligados ao tema. Ao final dele, você saberá:
- O que é, efetivamente, a sílica;
- Quais as principais atividades em que há exposição ocupacional à sílica;
- Como lidar com exposições à sílica nos ambientes de trabalho.
Vamos lá!
Exposição ocupacional à sílica: atividades e efeitos.
A sílica, ou dióxido de silício, é um óxido de metal do grupo IV que ocorre naturalmente sob a forma cristalina ou sob a forma de sílica amorfa. É o segundo mineral mais comum na crosta terrestre, sendo um componente importante da areia, de rochas e de alguns minérios.
Sua forma mais abundante é α-quartzo. O termo quartzo é às vezes usado em lugar da expressão sílica cristalina – inclusive no subitem 5 do item “Sílica Livre Cristalizada” do Anexo 12 da NR-15.
A sílica é frequentemente encontrada nas seguintes atividades:
- Jateamento;
- Perfuração de rochas;
- Fundições;
- Produção e no uso de abrasivos.
Os efeitos tóxicos da exposição dependem diretamente dos seguintes fatores:
- Composição da fração respirável;
- Concentração de poeira ambiental;
- Concentração de sílica livre cristalina;
- Tamanho da partícula;
- Tempo de exposição.
O mais grave efeito associado à exposição à sílica cristalina é o desenvolvimento de silicose.
Essa doença, que atinge os pulmões, é incapacitante, irreversível e, muitas vezes, fatal.
Além disso, o pulmão lesionado pode provocar uma sobrecarga no lado direito do coração (o lado que bombeia o sangue para os pulmões). Esse esforço adicional pode causar danos permanentes ao coração (cor pulmonale), podendo provocar a morte do trabalhador por problemas cardíacos.
Também cabe destacar que, apesar de não estar associada à silicose e ser bem menos tóxica que a forma cristalina, a sílica amorfa não é inócua. Assim como outras poeiras, ela pode provocar pneumoconioses e outros danos ao trato respiratório.
Assim, sempre devemos consultar a FISPQ do produto para verificar as recomendações do fabricante quanto à sua correta manipulação. 😉
Recentemente, casos de silicose aguda foram registrados no Brasil em trabalhadores de fábricas de borracha de silicone, utilizadas em panelas de pressão e refrigeradores. Em geral, porém, a silicose se desenvolve de forma gradual, sendo fundamental o acompanhamento médico rigoroso dos trabalhadores expostos à sílica.
Nunca esqueça que os raios-X de tórax devem obedecer à Classificação Radiológica da OIT. Se bem executados, os raios-X de tórax permitem que a doença seja detectada em estágios não tão avançados.
Além de ser benéfica para o trabalhador, a detecção de alterações nos exames aponta a necessidade de novas medidas de controle da exposição a poeiras no local. Esse é um clássico exemplo de aplicação da articulação entre o PCMSO (exames médicos) e o PPRA (controle de riscos), como já explicamos aqui.
E como tratar as exposições à sílica?
Obedecendo a hierarquia prevista na NR-9:
- Eliminar o uso, quando possível.
- Utilizar métodos de trabalho que impeçam sua formação no ambiente (como a proibição da utilização de jateamento de areia, prevista na NR-15).
- Impedir sua dispersão no ambiente, através do enclausuramento do processo, do uso de sistemas de ventilação local exaustora etc.
- Quando nada mais for possível, ou em caráter complementar ou emergencial, fornecer os equipamentos de proteção respiratória adequados.
O fornecimento de máscaras deverá seguir as diretrizes do Programa de Proteção Respiratória, da Fundacentro. Isso inclui a realização dos ensaios de vedação, tantas vezes esquecidos… 😉
Leia mais sobre o assunto!
- A International Agency for Research on Cancer tem uma Monograph que trata sobre a poeira de sílica cristalina, na forma de quartzo ou cristobalita. Leia aqui.
- A Organização Mundial da Saúde, no âmbito do seu projeto PACE (Prevention and Control Exchange), lançou uma publicação muito interessante sobre poeira suspensa no ar (não apenas sobre sílica, vale muito a consulta). A versão em língua portuguesa pode ser encontrada aqui.
Os links apresentados têm muita informação útil. Aproveite, salve seu conteúdo, favorite os links, e leia quando puder! 🙂
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